sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O inicio

O creptar das chamas iluminavam aquela noite fria em Torvalds. Eu não sei dizer ao certo se estávamos no inicio do inverno, já que o frio que se passou por dentro de mim congelava mais que o alto das montanhas da vila. Todo meu passado e futuro estava ali ardendo entre as lambidas das labaredas sobre o corpo do meu pai e meu irmão. Um pouco mais distante de mim estava a figura de minha mãe. Uma mulher forte. Agora eu era tudo que havia lhe restado.

As vozes de orações à Odin ficavam tão longe. Sei que falavam sobre o caminho de Vahalla, sei que abriam o caminho de meu pai e meu irmão para o encontro que todos nós esperamos um dia. Sei que eram cheios de orgulhos e honras pelas batalhas que os dois já tinham travado, mas eu era apenas um moleque com pouco mais de oito anos quando o My Jarl entregou-me o machado de meu pai, e a capa que ele usava. Eu era agora o detentor do meu destino.

Lembro do vento forte que começou a soprar, lembro da chuva forte que desabou trazendo o vento frio como se os deuses chorassem pelo adeus dos guerreiros a esta terra. As mãos de minha mãe me levaram para casa, me secaram, alheio a tudo que eu poderia estar pensando, na sede de vingança. No quanto eu queria aquele machado banhado no sangue dos inimigos da minha vila, ela estava ali acalentando e preparando meus novos caminhos.

Os dias que se passaram na vila tinham novo gosto para mim. Os ensinamentos de guerra haviam mudado. Já não era mais visto apenas como um garoto. Enquanto, meus amigos podiam correr livremente brincando com espadas de madeira a mim era ensinado a lida na ferraria. O peso do aço, o manejo do machado e as táticas de esquivas. A mim, era ensinado a ser um homem. Um goreano.

Alguns anos depois, os contatos de minha mãe ao sul se faziam valer. Ela temia que eu tivesse o mesmo fim que meu pai. Temia que eu fosse ao encontro de Odin antes do tempo que ela esperava. E conseguiu que me levassem para o sul. Naquele tempo eu não entendi o porque de me tirar da vila que era minha raiz. Do porque de me afastar do Norte. Do porque me de mandar pra longe dela e tive ódio. Por ela me tirar tudo que eu tinha mais orgulho. Hoje eu sei que ela estava certa e não poderia ter feito melhor por mim. Eu conheci uma nova cultura, conheci a escrita e códigos de honra. Conheci o peso de uma casta vermelha e todas as obrigações que aquela cor lhe traz. Aprendi as táticas de guerra do sul. Aprendi os comandos dos tarns. Travei batalhas como um dos Rarius da cidade. Aos poucos fui obtendo nome, contatos, conhecimentos. Então eu tive novamente um sonho que me acompanha desde menino. E parti.

O Sul não era meu lugar. Não era onde Odin me queria ou tinha seus planos traçados para mim. Vaguei por vilarejos do sul, empregando meus serviços de ferreiro pelo caminho. Encontrei novos irmãos. Alguns me acompanham até hoje, outros Odin os chamou à sua presença. Vagamos por cidades e vilas seguindo nossas próprias leis. Era o fim de toda a carga sulista que havíamos adquirido.

Então novamente o sonho me fez tomar a barca e retornamos para o Norte. Não sei descrever a sensação que tive aos meus olhos avistarem aquelas terras novamente. O cheiro do norte, o barulho das pessoas no cais, o movimento dos tubarões sob o casco dos barcos. A cor do céu do meu norte não se iguala em lugar algum. Lembro dos meus olhos marejarem quando pisei no cais. Eu estava de volta pra casa. De volta a Gladsheim...De volta onde tudo havia começado e onde tudo iria começar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário